TRIBUTAR OS RICOS E OS IMPACTOS NA INOVAÇÃO: RISCOS E OPORTUNIDADES PARA IA, STARTUPS E DEEP TECHS

Nas últimas décadas, o debate sobre justiça tributária ganhou força em todo o mundo e o Brasil não ficou de fora. A proposta de tributar mais os super-ricos, com foco em dividendos, fundos exclusivos, offshores e grandes patrimônios, tem como objetivo corrigir distorções históricas e equilibrar as contas públicas.

Mas, para quem atua em áreas intensivas em inovação — como inteligência artificial, blockchain, Web3 ou deep techs, a pergunta é inevitável: essas medidas atrapalham ou incentivam o avanço da inovação?

Neste conteúdo, analisamos os efeitos potenciais desses movimentos sob o ponto de vista econômico e estratégico para o ecossistema de inovação.

O que está em discussão?

As propostas em debate no Brasil envolvem:

  • tributação de dividendos recebidos por pessoas físicas (hoje isentos);
  • tributação anual de lucros mantidos em offshores controladas por brasileiros;
  • aplicação do “come-cotas” também aos fundos exclusivos;
  • discussões iniciais sobre um possível imposto sobre grandes fortunas.

Essas medidas visam aumentar a arrecadação sem ampliar a carga sobre o consumo ou os assalariados, mas podem afetar a forma como o capital circula.

Efeitos possíveis no ecossistema de inovação

Projetos de IA, startups e deep techs dependem fortemente de capital paciente e de um ambiente de negócios estável. Veja os principais impactos possíveis:

  1. Menor apetite de grandes investidores

Fundos exclusivos e offshores são frequentemente usados por investidores de alto patrimônio para estruturar aportes em startups. Com a redução da vantagem tributária, pode haver redução no volume disponível ou uma mudança na estratégia desses aportes.

  1. Revisão de estruturas societárias

Startups com sócios internacionais ou estruturas em países como Estônia, Delaware ou Cingapura podem rever sua organização, buscando eficiência tributária frente às novas regras.

  1. Investidores mais profissionais

A médio prazo, a eliminação de distorções pode estimular um ecossistema mais técnico e menos dependente de arbitragem fiscal, aproximando o Brasil das práticas globais.

  1. Potencial de reinvestimento público em inovação

Se bem canalizada, a nova arrecadação pode fortalecer políticas públicas de fomento à inovação, como investimentos via Finep, BNDES, Embrapii e agências estaduais.

Riscos para o setor

Apesar das oportunidades, há riscos que precisam ser monitorados:

  • insegurança jurídica com alterações abruptas ou retroativas;
  • fuga de capital para outros países mais previsíveis;
  • desestímulo ao investimento-anjo por parte de pessoas físicas que perderem vantagens tributárias.

Por isso, é essencial que as mudanças sejam transparentes, graduais e acompanhadas de políticas compensatórias que estimulem a inovação.

Isso tudo porque tributar os mais ricos não precisa ser um obstáculo à inovação. Na verdade, pode ser uma oportunidade para reequilibrar o sistema e reinvestir estrategicamente em ciência, tecnologia e startups.

O desafio está em como fazer isso: com equilíbrio, segurança jurídica e visão de longo prazo.

O Brasil tem talento, criatividade e demanda. Com o ambiente certo, pode transformar essa reorganização fiscal em um novo ciclo virtuoso de desenvolvimento e inovação.

Emanuelle Lemos

Emília Campos

Maysa Zardo

Emanuelle Lemos
+ posts
+ posts
Maysa Zardo
+ posts
×