Quando o Bitcoin foi desenvolvido, o mundo da ciência da computação que buscava criar um “dinheiro digital” lidava com um grande dilema: evitar o gasto duplo do dinheiro, sem utilizar um intermediário de confiança. E esse foi o grande salto em inovação trazido pela criação do Bitcoin, a combinação de tecnologias que garantiu segurança para transações em redes distribuídas, evitando o gasto duplo.

Isso só foi possível graças ao que se denominou Prova de Trabalho, ou Proof of Work (“PoW”), que foi o método de consenso utilizado por Satoshi Nakamoto para a construção dos blocos da rede. Em uma tradução livre, o Whitepaper resume sua proposta da seguinte forma:

Nós propomos uma solução ao problema do gasto duplo utilizando uma rede ponto-a-ponto. A rede registra a data e hora das transações através de um sistema de carimbo de tempo, transformando-as em uma cadeia contínua de prova de trabalho baseada em um hash, formando um registro que não pode ser modificado sem que toda a prova de trabalho seja refeita.

A cadeia mais longa não serve apenas como uma prova da sequência dos eventos testemunhados, ela serve também como uma prova de que ela veio do grupo com maior poder computacional. Enquanto a maioria do poder computacional é controlada por nós de rede que não estão cooperando para atacar a rede, eles vão gerar a maior cadeia e ultrapassar os atacantes. (grifos nossos)

O conceito adotado por Nakamoto é baseado no princípio que pode ter inspirado a construção das pirâmides do Egito, ou seja, quanto maior o esforço e os recursos empregados por quem quer ser validador da rede, mais confiável este demonstra ser para os demais participantes.

Também no Whitepaper do Bitcoin fica claro o objetivo da sua criação, ser uma versão de dinheiro eletrônico ponto-a-ponto e permitir que pagamentos online sejam enviados diretamente de uma pessoa para outra sem a necessidade de passar por uma instituição financeira, isso de forma irreversível, o que significa que, descentralização e segurança são características imprescindíveis desse projeto.

Por outro lado, em nenhum momento do Whitepaper do Bitcoin se verifica outros objetivos desejados, como rapidez nas transações ou possibilidade de programação de Smart Contracts, ou seja, escalabilidade e programabilidade. Esses atributos nunca fizeram parte do projeto de concepção do Bitcoin, cujo maior objetivo foi resolver o problema do gasto duplo de forma segura.

Já o Ethereum, lançado em 2015, em seu Whitepaper já parte da premissa de que o Bitcoin, além de ter resolvido a questão do gasto duplo, ainda acabou por criar uma estrutura denominada Blockchain que poderia ter outras utilizações, que seriam o objetivo do Ethereum:

Dentre as aplicações alternativas da tecnologia do blockchain, normalmente incluem-se a utilização de ativos digitas no blockchain para representar moedas personalizadas e instrumentos financeiros (“colored coins”), a propriedade de um dispositivo físico subjacente (“smart property”), ativos não-fungíveis, como domínios na internet (“Namecoin”), tal como aplicações mais complexas envolvendo ter ativos digitais sendo controlados diretamente por um pedaço de código implementando regras arbitrárias (“smart contracts”) ou até mesmo “organizações autônomas descentralizadas” (Em inglês, Decentralized Autonomous Organizations — DAOs) baseadas no blockchain. O que o Ethereum pretende prover é um blockchain com uma linguagem de programação verdadeiramente Turing-complete, que pode ser utilizada para criar “contratos” que podem ser usados para codificar funções arbitrárias de transição de estado, permitindo que os usuários criem qualquer um dos sistemas descritos acima, assim como muitos outros que nós sequer ainda imaginamos, simplesmente escrevendo sua lógica em poucas linhas de código.

É possível perceber que o objetivo da criação do Ethereum é diferente da do Bitcoin e já partiu da premissa do problema do gasto duplo resolvido. Cada projeto tem suas premissas bastante claras em seus respectivos White papers e essas são diferentes entre si. Enquanto o Bitcoin buscava segurança para transações em redes distribuídas, a característica mais desejada do Ethereum era ser verdadeiramente “turing-complete”, ou seja, ser programável, ser a base para o desenvolvimento de Smart Contracts.

Com isso, é válido dizer que não existe uma “competição” entre os dois ativos virtuais, cujas propostas e objetivos são diferentes e, por isso, podem adotar métodos de consenso diferenciados, de acordo com o nível de descentralização e segurança necessários aos seus objetivos.

Por outro lado, é importante também mencionar que, no jogo dos métodos de consenso, foi o PoW que conseguiu resolver o velho problema do gasto duplo com segurança e um excepcional track record de quase 14 anos sem falhas, no caso do Bitcoin, que até o momento conseguiu sobreviver ileso ao potencial risco de um ataque de 51%, mencionado no próprio Whitepaper como possível ameaça.

Ou seja, descentralização e segurança não têm apenas um custo, tem VALOR, haja vista a enorme quebra de paradigma causada pelo Bitcoin, que ficou conhecido por esse feito como a Máquina da Confiança . Se existe alguma falha, esta foi nossa, como civilização, por não ter conseguido encontrar, até agora, formas efetivas de geração de energia mais baratas e limpas, já que a humanidade inteira é extremamente dependente de energia para várias coisas, não apenas mineração de bitcoins.

Para finalizar, voltando ao tema central, o fato é que Bitcoin e Ethereum não competem, não se fagocitam, eles se completam e se destinam a utilizações distintas e, juntos, deram início ao ecossistema cripto que fornece cada vez mais opções aos usuários. Essa é a palavra-chave, OPÇÃO, direito de escolha, é disso que se trata, alternativas, onde uma criptomoeda não precisa excluir a outra, cada uma tem seu próprio espaço e público.

Vida longa às criptos!

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