Você deve estar se perguntando qual a relação que existe entre Cannabis e a tecnologia Blockchain. De fato, realmente não há uma ligação direta entre esses dois temas, exceto o fato de que, no momento, ambos são mercados disruptivos e em ascensão, em boa parte do mundo.
No caso da cannabis, trata-se de uma planta com tamanha resiliência que, de medicina natural na antiguidade, se transformou em artigo proibido praticamente no mundo inteiro, para agora retomar seu lugar de insumo mágico com milhares de atributos, muitos ainda nem totalmente estudados.
Com capacidade para tratamento de diversas doenças gravíssimas, até mesmo refratárias aos medicamentos existentes, a planta tanto pode ser utilizada para fabricação de remédios pela indústria, como também funciona perfeitamente para quem decide plantar em casa e fazer seu próprio remédio natural, demonstrando ser um tratamento acessível para qualquer pessoa.
Segundo pesquisa da Kaya Mind[1], o Brasil conta com mais de 80 empresas com CNPJ aberto que atuam no mercado de cannabis, algumas já operando com mais de 5 mil funcionários. Além disso, existem 1900 produtos relacionados à cannabis medicinal que estão ao alcance dos brasileiros, o que mostra o potencial da indústria nacional do produto hoje. A projeção de valor para esse mercado em 2023 é de R$ 655,1 milhões.
Mas não devemos esquecer do mercado recreativo, também chamado “uso adulto”, derivado das capacidades psicoativas da planta. Apesar de ficar ali meio deixado de lado nas discussões sobre regulamentação e sobre os potenciais benefícios da planta, quase como se fosse a parte “feia” da história, esse é um mercado comercial gigantesco, que inclui toda a indústria de acessórios para seu uso, que não pode ser desconsiderada, já que está a pleno vapor, mesmo esse sendo um mercado ainda não regulamentado no Brasil.
As tabacarias, headshops e growshops, que vendem acessórios para o plantio; os investimentos financeiros, como fundos, criptomoedas e até NFTs, também estão focando no mercado; eventos investem na disseminação de informação sobre a cannabis e muitos outros modelos de negócio estão se desenvolvendo em torno desse mercado. Empresas desenvolvendo tecnologia, gerando empregos, aumentando o PIB, de forma legalizada, em torno de um mercado que, se fosse completamente regulamentado, poderia estar multiplicando esses números exponencialmente.
Mas onde o Blockchain entra nisso tudo? Após anos de política governamental proibicionista e fomentadora do tráfico, que sempre foi um grande incentivador da corrupção, é importante que o mercado canábico pós-regulamentação seja o mais íntegro e sustentável possível. E para que isso possa acontecer, transparência é o requisito mais importante, seja dentro da indústria, com o consumidor, perante a agência regulatória, enfim, toda a cadeia envolvida, desde a semente, até o produto final.
E é nesse sentido que temos visto Blockchain fornecendo ferramentas incríveis para a indústria canábica, auxiliando na logística, rastreamento da produção, monitoramento das agências regulatórias. A utilização de redes distribuídas, públicas e imutáveis traz confiança e segurança aos processos da indústria, garantindo a transparência que traz a confiança ao mercado.
O acompanhamento da produção também permitirá que o consumidor receba informações confiáveis sobre o produto adquirido, checadas pela autoridade regulatória durante o cultivo, também por meio do Blockchain.
Além de serem ambos assuntos disruptivos atualmente, a tecnologia Blockchain pode colaborar com a indústria da cannabis para trazer transparência, ganho de produtividade e escala a esse mercado.
É importante, e seguro, portanto, que a agenda de regulamentação caminhe de forma mais avançada e alinhe o Brasil aos demais países da América Latina, existe tecnologia para garantir esse processo. Parece faltar apena boa vontade.
© 2023 Emília M Campos
[1] empresa brasileira especializada em dados e inteligência de mercado no segmento da cannabis, do cânhamo e de seus periféricos.
Teste de biografia