MARCAS DESCRITIVAS PARA STARTUPS E TECHS: ATRAEM O USUÁRIO, MAS LIMITAM A PROTEÇÃO

Na hora de nomear uma startup ou uma nova solução digital, é comum cair na tentação de escolher nomes que expliquem diretamente o que o produto faz. Afinal, em um mercado acelerado e saturado, nomes como “Data Insights”, “LegalTech Pro”, “SmartHealth AI” ou “FinPay” parecem funcionar bem: transmitem o nicho, a proposta de valor e são de fácil memorização.

Mas será que essa estratégia é sustentável no longo prazo?

Sim, o nome comunica rápido, mas e depois?

Para empresas em estágio inicial, nomes descritivos parecem vantajosos. Facilitam a captação de leads, ajudam no SEO, geram reconhecimento imediato e, em alguns casos, até reduzem o custo de aquisição de clientes. O nome certo pode funcionar como um pitch silencioso.

Porém, esse tipo de nome geralmente tem baixo grau de distintividade e isso impacta diretamente na proteção da marca perante o INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial) e nos mecanismos de enforcement contra cópias ou concorrentes parasitários.

O custo da “comodidade”: convivência e limitação jurídica

Ao optar por termos genéricos ou descritivos, sua marca passa a coexistir com dezenas de outras similares no mercado, especialmente no ambiente digital. Em marketplaces de software ou redes sociais, é comum ver soluções com nomes quase idênticos, diferenciando-se apenas por um sufixo, uma cor, ou um ícone.

Isso ocorre porque o INPI e os tribunais não concedem exclusividade sobre palavras de uso comum ou que descrevam diretamente os serviços, a menos que estejam inseridas em um conjunto distintivo (como um logotipo elaborado ou uma composição original).

Ou seja, você pode até conseguir registrar a marca mista (nome + logotipo), mas não terá exclusividade sobre os termos mais genéricos, como “LegalTech”, “Smart”, “Fin” ou “Data”.

Enforcement e escalabilidade ficam comprometidos

Startups com nomes fracos juridicamente enfrentam mais dificuldades para combater concorrentes que se apropriem de nomes semelhantes. Além disso, se você pretende escalar internacionalmente, buscar investimento ou licenciar sua tecnologia, uma marca genérica pode ser um ativo limitado ou até um passivo jurídico.

Como evitar esse risco? Criatividade com estratégia

Empresas de tecnologia que se destacam costumam adotar nomes criativos com potencial de diferenciação, mesmo que tragam alguma evocação setorial. “Notion”, “Stripe”, “Slack”, “Zapier” ou mesmo “Airbnb” não dizem exatamente o que fazem — mas se tornaram sinônimos de seus serviços com o tempo, por meio de branding forte e uma base jurídica sólida.

O ideal é buscar um nome original, de pronúncia simples, com domínio disponível e que não seja descritivo demais. Não caia na armadilha da “língua de gato” (leia mais em:  https://malgueirocampos.com.br/lingua-de-gato-ta-no-gato-ta-no-chocolate-e-agora-ta-liberado/). Isso garante uma marca com identidade, longevidade e proteção eficaz no Brasil e no exterior.

A marca é um dos ativos mais estratégicos da sua startup. Embora nomes descritivos possam parecer vantajosos no MVP ou nas primeiras rodadas, podem travar sua escalada em fases mais avançadas. Invista desde cedo em uma construção marcária sólida. É isso que permitirá não só crescer, mas proteger o que você está construindo.

Maysa Zardo

Maysa Zardo
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